Amor soletra-se T-E-M-P-O


 

Ter credibilidade dentro da comunidade é essencial para partilhar o amor de Cristo com eficácia, partilha Anna* e Noah*.

Partilhar as boas novas com os que não alcançados é particularmente difícil nas zonas rurais do Norte de África, onde qualquer tentativa de seguidores de Jesus ministrarem à comunidade local de muçulmanos, pode resultar em deportação e prisão. Embora se estime que existem cerca de 200 cristãos na área, estes têm de passar despercebidos ou então arriscam-se a serem ostracizados pela família e pela sociedade, que pode resultar em desemprego ou perseguição. Nesta área remota, ir ao médico – uma tarefa que muitos no Ocidente podem considerar desafiante, mas não inconveniente – pode demorar dias.

Jesse Apesar das dificuldades, Anna e o seu marido Noah usam as suas habilidades para partilharem as boas novas e criar relacionamentos significativos dentro da comunidade.


 

Anna, uma enfermeira alemã nativa, põe em prática o seu conhecimento médico para ajudar as mulheres no Norte de África. Muitas delas são analfabetas e não têm acesso aos serviços mínimos de saúde. No entanto, Anna não estava muito inclinada a tornar-se enfermeira, inicialmente. “Eu costumava ser uma maria-rapaz,” conta ela. Ao longo do seu crescimento “estava rodeada de enfermeiras. Todos os meus amigos estudavam enfermagem e eu sempre disse que nunca iria ser uma enfermeira.”
“E numa noite, eu tive esta convicção da parte de Deus,” acrescente ela. “[Ele disse-me:] ‘Anna, tu vais estudar enfermagem neste hospital’.” Desde esse momento, Anna aceitou que a enfermagem é uma parte fundamental da sua identidade. “Eu sinto que Deus me deu isto,” explica ela. “Sou cristã e sou enfermeira.”


 

Uma vida de serviço

Anna e Noah, um missionário australiano, juntaram-se inicialmente à OM a bordo do Doulos, em 1999. Serviram no navio durante alguns anos, mas Noah queria fazer mais para espalhar as boas novas, especialmente com os menos alcançados no Norte de África. “Durante muitos anos eu estava fascinado com esta região”, explica ele. “Tinha conexões aqui e estava fascinado com a cultura e vi a grande necessidade [das boas novas]. Então, fui atraído para trabalhar nesta parte do mundo.”

Mas por causa das medidas restritas no país desejado, Noah tinha de ter uma razão para estar nessa região que não chamasse à atenção das autoridades. Então, Noah regressou ao seu país natal para tirar uma licenciatura na área empresarial. Usando o que ele aprendeu, mudou-se com a sua família para o Norte de África em 2017. Noah descobriu, rapidamente, que o seu trabalho tinha mais procura numa vila pequena, que ficava a algumas horas da cidade para onde ele e a sua família se tinham mudado.

“A Igreja aqui é muito pequena e nova, tendo começado no final dos anos 90. Quando nos mudámos para ali pela primeira vez, havia apenas 200 crentes no país. A percentagem de crentes ortodoxos que seguem Jesus é pequena porque a maioria são ortodoxos apenas no nome. Não é raro ouvir alguém dizer: “Eu sou ortodoxo, mas não acredito em Deus”. Eles não se ofendem por falar de fé e até estão dispostos a falar sobre isso. Mas também estão determinados nos seus caminhos. Para eles, a família é a coisa mais importante – se seguir Jesus significa perder as suas famílias, eles não estão dispostos a fazê-lo”.


 

A importância da hospitalidade e relacionamentos

 

Um aspeto que atraiu Anna e Noah para a região foi a grande ênfase nos relacionamentos e hospitalidade. “As pessoas convidam-te constantemente para as suas casas,” disse Anna. “Caminhas pela rua e as pessoas dizem ‘Olá, vem aqui, tenho chá.’ É mesmo diferente comparado com a nossa cultura.”

Ainda assim, com esta proeminente hospitalidade vem também um sentimento de desconfiança em relação às ideias e pessoas estrangeiras. “Se alguém não te conhece, não têm razão para confiar em ti ou confiar no que estás a dizer,” explica Noah. “Portanto, se tu começas a falar com alguém aleatoriamente, e tentas partilhar algo, essa pessoa pode ser educada, vai ouvir e por aí adiante. Mas não vai dar muita importância ao que estás a dizer.” Assim, partilhar o amor de Deus exige também uma construção da credibilidade dentro da comunidade. Felizmente, o trabalho do Noah permite isso mesmo.


 

Estabelecer credibilidade e construir relacionamentos

 

Noah explica que o seu trabalho permite-lhe “ter aquelas […] conversas espirituais” com pessoas da comunidade. Passar tempo com as pessoas já deu fruto. Noah contratou um homem para ajudar nos negócios e, enquanto trabalhavam, falavam. Mas por causa das diferenças culturais, Noah teve dificuldade em encontrar uma base comum com o homem até se aperceber de algo.

“Sempre que estávamos juntos, eu orava,” explica Noah. “Eu agradecia a Deus pela bela criação ou pelo bom tempo ou pedia por proteção. E sendo muçulmano, ele nunca iria negar [uma oração],” adiciona Noah. “Eles acreditam na oração, respeitam pessoas com fé. Por isso, para eles […] não é um problema para ti viver a tua fé.”

Com esse ponto em comum, Noah conseguiu criar harmonia com a sua nova contratação. Ao longo de alguns anos de oração e conversa, o homem começou a interessar-se mais por Jesus e, eventualmente, entregou o seu coração a Deus em 2022. Desde o seu novo nascimento, o jovem tem partilhado as boas-novas de Cristo com outras pessoas na comunidade. “O seu pai [e] irmãs [estão] interessados,” explica Anna. “Ouvir sobre este efeito dominó […] acho que é incrível.”


 

Noah também é encorajado pela sua paixão de partilhar o amor de Jesus. “É bom ver a ousadia que existe em alguns cristãos e a forma como espalham e partilham o que aprenderam com outros,” explica ele. “Não queremos ver pessoas isoladas,” acrescenta. “Queremos ver comunidades construídas [e] estáveis e que haja oração, encorajamento [e] discipulado juntos, dentro dos grupos culturais.”


 

Amor soletra-se T-E-M-P-O

 

Enquanto o seu marido conecta e partilha as boas novas de forma direta, Anna é constrangida pelas normas culturais da região. No entanto, ao utilizar a sua formação como enfermeira, Anna está a ajudar as mulheres e a cuidar delas.

A língua local tornou-se uma dificuldade. “É muito desafiante,” informa Anna. “Tenho problemas quando vou a uma loja [e] dizer que quero ‘x’. Ainda tenho de pensar muito nisso.” Mesmo com a barreira linguística, Anna já teve avanços ao ganhar a confiança das mulheres passando tempo com elas. “Muitas vezes dizemos que amor [na sua língua] soletra-se T-E-M-P-O,” sorri ela. “Só ao estar com eles [nativos], sentem-se amados.”

Anna explica que passar tempo com as mulheres da área pode ser tão fácil como vigiar as crianças enquanto elas fazem a lida da casa. “Não têm de ser grandes coisas,” explica. “Apenas coisas simples.”

Anna também falou de Jesus àquelas com quem construiu relações e ajudou-as a reavaliarem o seu próprio valor. “Elas sentem que não têm nada para dar porque não têm educação ou não sabem ler [ou] não sabem escrever,” explica ela. “Mas eu gostava de lhes dar algo para que possam dizer ‘Oh, eu sei de algo’.”


 

Partilhar as boas novas pode consumir muito tempo, mas Anna tem visto resultados. Quando visitava um cristão nativo com outro estrangeiro, Anna lembra-se de uma “pequena senhora tímida” que estava no canto calada. De alguma forma, o tópico de morte veio à conversa e a pequena senhora apareceu. “Ela disse que antes de ser cristã, tinha muito medo da morte,” diz Anna, “Mas agora que é cristã, já não tem mais medo. Só de ouvi-la dizer isto em frente de […] outro parente seu” é mesmo encorajador, explica Anna. “Podem ser pequenos passos,” acrescenta ela. “Não são grandes transformações, mas só de ver isso já é mesmo muito especial.”


 

Devagar, mas a crescer

 

Anna e Noah entendem que o crescimento das boas novas na região tem sido lento. “Não se vê frutos todos os dias,” explica Anna. “Mas é uma forma de conhecer pessoas num local onde o [estas] são necessárias.”

Ainda assim, tanto Noah como Anna, estão entusiasmados pela crescente mudança que têm visto acontecer nos últimos seis anos. “Conhecemos uma mão cheia de pessoas que se tornaram cristãs, o que por si só já é entusiasmante,” explica Noah. “Conversamos com pessoas que já estiveram aqui há 20 anos e não viram nenhum fruto. Ou um ou dois [cristãos] em décadas. E na última década, tem-se sentido um significativo [crescimento].”

“Há, definitivamente um senso de ‘coisas a acontecer’,” acrescenta. “Mesmo que pareça tudo lento, na nossa perspetiva.”

 

Junta-te a nós em oração por Anna e Noah, para que a competência linguística possa melhorar para espalharem falarem de Jesus de forma eficaz aos não alcançados no Norte de África. Ora para que o fundo financeiro do ministério cresça na região e que o amigo de Noah seja um mensageiro fiel no meio do seu povo, apesar da oposição. Ora para que Anna vá ao encontro dos corações das mulheres a quem tem ministrado e que elas entendam o seu valor aos olhos de Deus.

 

*nomes alterados



		
Texto de: Johannes Haasbroek
Data: 01/08/2023 | Norte de África

 

 

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